quinta-feira, 24 de março de 2011

FILME CISNE NEGRO (BLACK SWAN)


Cisne Negro surpreende, assusta e seduz com arte e pesadelo
A simples menção do nome Darren Aronofsky faz qualquer cinéfilo tremer de excitação. Com apenas cinco longas no currículo, o diretor americano nascido no Brooklyn já possui uma sólida carreira de prestígio quase incontestável entre público e crítica. Depois de levar o Leão De Ouro por seu trabalho anterior, “O Lutador”, Aronofsky retorna com uma obra que aborda a fragilidade da mente humana e a perturbadora ambição que a move em busca de um sonho. “Cisne Negro”, que já acumula mais de 20 prêmios ao redor do mundo, além de concorrer em cinco categorias no Oscar 2011, é um misto de sonho e realidade que surpreende, assusta e seduz.

Desde o início é possível deduzir no que o filme se tornará no decorrer de sua trama: um pesadelo. Ambientado nos bastidores do prestigiado New York City Ballet, a trama gira em torno de Nina (Natalie Portman, aposta certa para o Oscar de Melhor Atriz), uma bailarina que se vê diante da chance de interpretar o papel principal em uma montagem de “O Lago dos Cisnes”, de Piotr Ilitch Tchaikovsky.

Insegura e sem amigos, Nina vive exclusivamente para a dança, sempre limitada à superproteção de sua mãe (a sumida Barbara Hershey, de “A Última Tentação De Cristo”). Pressionada por seu mentor e coreógrafo Thomas (Vincent Cassel, de “À Deriva”), Nina terá sua competência posta em xeque: sua fragilidade comprometeria a interpretação do papel que almeja, a Rainha dos Cisnes, visto que teria que interpretar simultaneamente o cisne branco (símbolo da pureza e ingenuidade) e o cisne negro (metáfora para a malícia, sensualidade e maldade).

O pesadelo da bailarina toma forma na figura de duas colegas de profissão: a veterana Beth (competente aparição de Winona Ryder), que foi forçada a abandonar a equipe por conta da idade, e a novata sedutora Lily (impressionante atuação de Mila Kunis, da série “That 70′s Show”). Enquanto Beth ilustra passado e futuro, Lily personifica o inimigo interno de Nina no presente.

Na busca pela perfeição e na tentativa de provar a Thomas que é capaz de expor seu lado mais selvagem, Nina é conduzida de tal forma pelo papel que interpreta que não consegue perceber os limites entre sonho e realidade, que começam a definir sua vida. Aos poucos, seu destino se sobrepõe ao enredo de “O Lago Dos Cisnes”. Seu lado negro, exemplificado pela essência de sua feminilidade, aflora e toma conta de sua personalidade sem que ela consiga controlá-lo. Dá-se inicio a uma metamorfose (física, mental, imaginativa, real, ou todas ao mesmo tempo) que conduzirá a protagonista a conflitos que levarão, personagens e plateia, a um destino perturbador.

Natalie Portman, a alma do filme, brilha grandiosamente neste papel que lhe exigiu esforço intenso em conhecimento, aprimoração e domínio das técnicas de dança. Foram quase 12 meses de preparo para que a atriz conseguisse expor, de maneira plausível, o retrato de uma bailarina devorada pela ambição. A atriz, que já havia sido indicada ao Oscar pelo seu papel coadjuvante em “Closer – Perto Demais”, dificilmente sairá da cerimônia deste ano sem a estatueta de Melhor Atriz em mãos. “Cisne Negro” concorre ainda nas categorias de Melhor Filme, Diretor, Fotografia e Edição – reconhecimento mais que merecido. Lamenta-se apenas a Academia não ter indicado a avassaladora atuação de Mila Kunis como coadjuvante.

Aronofsky arquiteta uma trama de padrões narrativos complexos, cujo ritmo é determinado pela constante mudança entre sonho e realidade, que tornam o filme uma experiência sensorial inebriante. O estilo visual de “Cisne Negro” se molda por cortes rápidos, movimentos vertiginosos de câmera e close-ups espetaculares que promovem uma assombrosa harmonia entre o que se vê, o que se ouve e o que se sente na tela. Enquanto os olhos são paralisados pela beleza da composição cênica (principalmente a cena em que Nina dança e se “transforma” em cisne), os ouvidos são tomados pela penetrante trilha sonora – que utiliza trechos da peça de Tchaikosvky, música eletrônica dos Chemical Brothers e as composições de Clint Mansell, parceiro tradicional de Aronofsky.

É possível sentir na pele cada arranhão, cada sangramento, cada ferida a cicatrizar no corpo da personagem. À medida em que cresce a paranóia de Nina, cresce o interesse do espectador pelo desfecho da trama.

Ao optar por elucidar as artimanhas do roteiro através de imagens e não por palavras, como usualmente acontece em Hollywood, o diretor convida o público a apreciar a loucura e a sensatez de sua protagonista sem propor julgamentos. “Cisne Negro” é construído sobre a ambiguidade e reside aí seu maior atrativo. Darren Aronofsky monta espelhos e materializa ilusões que promovem excitação, curiosidade, medo e angústia a quem se propor imergir completamente em sua história. Cenas que se mostram inofensivas revelam-se brutais e momentos de extremo impacto psicológico acabam por prestar-se inspiradores.

Depois da recepção morna do fantasioso “A Fonte Da Vida” (2006) e de toda a badalação em torno de “O Lutador” (2008), o cineasta adota um estilo narrativo que aproxima “Cisne Negro” de seus primeiros trabalhos: assim como em “Pi” (1998) e “Requiem Para Um Sonho” (2000), o espectador não conseguirá sair indiferente ao final da sessão. Seja pelo impacto do desfecho, seja pela pressão psicológica compartilhada com os personagens, o lado branco ou o lado negro do cisne interior que cada um carrega em si será convidado a se manifestar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A MULHER DA PÁGINA 194

Até a página 193 da edição de setembro da revista americana Glamour tudo estava normal: reportagens de beleza, moda, celebridades. Ao virar para a página 194, a leitora deu de cara com a modelo Lizzi Miller, de 20 anos, ilustrando uma matéria sobre autoimagem. Clicada de lado, ela aparece linda, loura, sorridente, seminua, os braços escondendo naturalmente os seios – mas não a barriga. E, de fato, havia uma barriga. Proeminente, mole, levemente caída. Alguma coisa estava fora da ordem. No mesmo dia, a revista recebeu dezenas de milhares de e-mails comentando o fato. As leitoras estavam surpresas. A maioria, feliz. “Estou sem fôlego de alegria… Amo a mulher na página 194!”, dizia uma das mensagens. “É essa a aparência de minha barriga após dar à luz meus dois filhos!”, escreveu outra. A fotografia virou notícia na internet, alvo de reportagens de outras revistas, como a Newsweek, e a modelo passou a ser conhecida como “a mulher da página 194”.

Editora-chefe da Glamour, Cindi Leive se surpreendeu com a repercussão. “A foto não era de uma supermodelo. Era de uma mulher sentada de lingerie com um sorriso no rosto e uma barriga que parece… espere… normal”, disse a jornalista no blog da publicação. Normal para as mulheres comuns. Mas não para as modelos de revistas, maquiadas e lapidadas pelos retoques digitais. O alvoroço em torno da barriga de Lizzi suscitou um debate: que tipo de beleza as mulheres querem ver nas revistas? Dono da agência 40 Graus, que lançou modelos como Paulo Zulu e Daniela Sarahyba, Sergio Mattos acha que uma revista feminina é lugar para mulheres de corpo perfeito. “Sou contra a magreza extrema, mas a boa forma é necessária. As leitoras estão comprando um ideal”, diz. Já para a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mirian Goldenberg, autora de O corpo como capital, “ninguém aguenta mais ver só um tipo de mulher nas revistas”. Ela acredita que haja uma demanda pela diversidade. “Mais que estética, é uma demanda política pela fuga ao padrão. Por isso, não me espanta a discussão em torno dessa barriga”, afirma.

A aprovação das leitoras à foto da mulher da página 194 é mais um exemplo dos movimentos de libertação da imagem feminina. É muitas vezes de forma chocante que o padrão se rompe. Bem mais polêmica que a “quase-normal” Lizzi Miller, a cantora e estilista Beth Ditto virou ícone de moda e atitude nos Estados Unidos. Vocalista do grupo The Gossip, já posou nua na capa de duas revistas. Uma delas a elegeu a pessoa mais cool do planeta. Beth faz striptease em seus shows e já declarou que gosta de ser chamada de feia e gorda. Polêmica parecida aconteceu com a cantora Preta Gil, cujo primeiro CD, em 2004, trazia sua foto nua. Na época, afirmou: “Já tive um filho, quilos a mais, estrias e celulite. Fiz lipo, tomei remédio, fui parar no hospital por ficar sem comer. Hoje acho meu corpo bonito, sensual”. Para Mirian Goldenberg, esses casos mostram que o antigo slogan feminista “meu corpo me pertence” – ligado à questão da sexualidade – está ganhando uma nova conotação. “É como se a mulher dissesse: meu corpo é esse e pronto. A mulher nua passa de objeto sexual a sujeito político”, diz a antropóloga.

segunda-feira, 14 de março de 2011

FORÇA SEMPRE, THATHA!

Meus sentimentos, minha amiga e boa parceira de profissão!
Adoro você.

quinta-feira, 3 de março de 2011

ESTUDO DA CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Professor Rafael do Nascimento Valente

Aproximar-se do conceito de Corporeidade é, em certo sentido, vivenciar possibilidades e conhecer-se como ser complexo e único no mundo. Ou seja, um indivíduo que é “o único capaz de testemunhar sua própria experiência, mergulhado na complexa rede de inter-relações a partir da qual constrói sua vivência singular” (FREITAS, 2004, p.51).
Nesse sentido, podemos compreender que estamos inseridos numa complexa teia, em que não há regras que podem definir, com exatidão, cada um de nós, apesar de existirem teorias que buscam, ao máximo, uma aproximação acerca de nossos comportamentos, atitudes, entre outros, como é o caso das teorias psicológicas e antropológicas, por exemplo.
Em síntese, a corporeidade humana nos permite compreender que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos homínidas, do gênero homo, da espécie sapiens. Somos constituídos dos diversos átomos, os quais constituem as moléculas, as células, os organismos, os seres humanos, a sociedade. (MORIN, 1997, p.61).
É através do corpo do corpo que podemos identificar a individualidade, a existência e o Ser, os quais remetem a organização. Assim, a corporeidade constitui-se das dimensões física e biológica (estrutura orgânica, biofísica, motora, organizadora de todas as dimensões humana) emocional-afetiva (instinto, pulsão, afeto), mental-espiritual (cognição, razão, pensamento, idéia, consciência) e sócio-histórico-cultural (valores, hábitos, costumes, sentidos, significados, simbolismos). Constitui na totalidade do ser humano, constituindo sua corporeidade. É nesse sentido que busco a compreensão da complexidade humana, tanto em nível individual quanto em nível social. Segundo Soares (2001), torna-se necessário estabelecer relações científicas, biológicas, sociais, culturais e históricas em torno da temática da corporeidade.
Como complementa Gonçalves (1994, p.13), “O corpo de cada indivíduo (...) revela (...) sua singularidade pessoal (...)”. Complementando, Queiroz (2000, p.19) diz que o corpo constitui um “universo no qual se inscrevem valores, significados e comportamentos.” É vivenciando sua Corporeidade que o homem está no mundo, desenvolvendo a sociedade e a si mesmo enquanto ser presente, atuante, e significante.
Descartes instituiu a idéia de que alma e corpo são duas substâncias diferentes (dualismo cartesiano); o corpo é, simplesmente, uma máquina. Essa teoria foi, por muito tempo, a referência de vários estudos sobre o corpo. Hoje em dia, sabemos que o corpo é muito mais do que uma máquina que não pensa. O corpo é muita mais do que uma “coisa”.

A LINGUAGEM DA CORPOREIDADE

No dicionário de língua portuguesa, temos que um dos conceitos de linguagem é “... qualquer meio de se exprimir o que sente ou pensa...” (BUENO, 1985, p.473), o que nos permite expandir este meio no sentido corporal. A linguagem é uma maneira de expressar, de canalizar informações, independente de quais sejam e qual canal será utilizado para transmiti-la: a língua, a imagem, o texto, o movimento corporal. A corporeidade e a motricidade são linguagens. Através do corpo e do movimento humano, transmitimos mensagens, nos expressamos, nos comunicamos. Linguagem ou expressão corporal, neste estudo, são sinônimos. Isso ocorre porque a expressão é uma maneira de transmitir informações e, por isso, uma linguagem.
Vale destacar, neste estudo que, se tratando de educação e desenvolvimento humano, a linguagem corporal é fundamental nas relações estabelecidas, como relata Mesquita (1997) citado por Ladeira e Darido (2003):
As relações interpessoais são mais influenciadas por canais de comunicação não-verbais do que verbais, sendo mais exatos do que as palavras. (...) O reconhecimento da existência e da importância de um modo não verbal expresso através do corpo e do movimento humano é de capital importância para profissionais que interagem com pessoas no seu dia a dia.
O que isso quer dizer? Que o CORPO FALA. Mesmo em silêncio, mesmo sem as palavras. Transmitimos o que pensamos para os outros por meio do olhar, dos gestos das mãos, do sorriso, do toque, dos pés e ás vezes nem percebemos. Isso é uma linguagem não-verbal do corpo. É importante saber interpretar o silêncio.

A CORPOREIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA

“É a forma de o homem ser-no-mundo” (GONÇALVES, 1994), é vislumbrar o corpo humano “numa unidade expressiva da existência” (FREITAS, 1999); indivíduo que pensa, sente e age. “O ser humano é corporeidade.” (SANTIN, 1987). Nós vivenciamos nossa corporeidade. Nós somos corporeidade. Complementando esta idéia, Mayer (2006) afirma que a “Corporeidade se refere a tudo aquilo que se caracteriza pelo preenchimento do espaço e pelo movimento e, prioritariamente, ao que situe o homem como um ser-no-mundo.” É a relação do meu corpo e a relação dele com os outros corpos.
Podemos perceber que não há uma definição única com relação ao termo e que esta depende mais das vivências de cada indivíduo do que de uma consideração objetiva.
“Educador (ô) adj. e sm. Que, ou aquele que educa.” . “Educar v. 1 Desenvolver e orientar as aptidões do indivíduo. 2 Ensinar, instruir. 3 Adestrar.” (ROCHA). A Educação Física é sobretudo Educação, envolve o homem com a realidade social. Os valores-fins da Educação em geral e seus respectivos objetivos estendem-se, em sua totalidade, à Educação Física que, como ato educativo, está voltada para a formação do homem, tanto em sua dimensão pessoal como social (GONÇALVES, 1994)
O professor de educação física que atua na escola, na universidade ou fora dela, influenciando e sendo influenciado pela mídia, pela publicidade e pela sociedade de consumo, age dentro dos moldes tecnicistas (tecnicismo está relacionado com o movimento e técnica correta como objetivo principal da Educação Física), da objetividade do movimento, sem ter consciência do seu papel educativo e social (COELHO FILHO, 2007). O professor precisa ter consciência dos padrões de corpo que são construídos socialmente e trabalhar esses conceitos. Pensando nesta prática pedagógica da Educação Física, é fundamental considerar a noção histórica progressiva da Cultura Corporal de movimento, demonstrando que os movimentos corporais foram desenvolvidos à medida que as necessidades foram surgindo e, por isso, uma intervenção dialética, criativa e de acordo com o contexto de cada grupo ou indivíduo, é essencial para a Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Gonçalves (1994) defende que, se os profissionais de Educação Física continuarem trabalhando e desenvolvendo as capacidades físicas e habilidades motoras não considerando a unidade humana, se limitando a produtividade e desempenho, estarão construindo uma Educação Física alienada que reforça a dicotomia corpo/mente.
O tema da Corporeidade torna-se de suma importância como auxílio na formação do indivíduo enquanto ser-no-mundo e enquanto professor de Educação Física, pois seu trabalho deverá focar a formação e transformação de seus alunos enquanto seres atuantes em seu meio, lembrando sempre de ressaltar a individualidade que se reflete na coletividade, caracterizando a personalidade de cada ser. Como o professor de Educação Física utiliza-se do movimento corporal, ele atinge diretamente a personalidade dos indivíduos, afetando, conseqüentemente, as relações que estes corpos estabelecem.
A Educação Física, partindo do movimento corporal, envolve o homem como uma totalidade (...). A sua prática pedagógica pode ser um meio de levar o aluno a uma maior liberdade subjetiva, possibilitando a ele ampliar seu campo de experiências e integrar suas condutas corporais em um nível superior de integração, levando-o a desenvolver a consciência crítica e a vivenciar o sentido da responsabilidade social (GONÇALVES, 1994).
Diante disto, vemos a relevância das sensações, ou seja, da vivência corporal das emoções, dos sentimentos enquanto fator integrante do desenvolvimento do indivíduo como ser presente, atuante e significante no mundo. As sensações são conexões e percepções de estímulos internos com estímulos externos. É por meio da orientação do profissional de Educação Física, por exemplo, que os indivíduos poderão vivenciar experiências corporais personalizadas, autênticas a partir de suas vivências anteriores. Para Malagoli (2006), a corporeidade/corpo “(...) nunca foi ou será significado apenas pela sua característica física. Ele sempre será uma fonte corrente de subjetividade de onde brotam significados”.
Santin (1987) acrescenta que:
A Educação Física passa a ensinar e a ajudar viver e sentir-se corporeidade. Este objetivo passaria a ser fundamental na Educação Física, na medida em que ele é o suporte básico do próprio modo de ser do homem. (...) É na corporeidade que o homem se faz presente. A dimensão da corporeidade vivida, significante e expressiva caracteriza o homem e a distância dos animais. Todas as atividades humanas são realizadas e visíveis na corporeidade. (...) Assim o homem, em todas as suas funções e vivências, precisa ser corpo, o que é bem diferente de dizer que precisa do corpo. Ser um corpo, sentir-se enquanto corpo e não, de ter um corpo – a Corporeidade é a compreensão da consciência e da existência do eu.

A Educação Física para Santin (1987) enquanto integrante do processo de desenvolvimento humano, lida diretamente com este corpo, com seus contextos, seus desejos, anseios, alegrias, tristezas, transformações, egos, e, por conseguinte, suas relações, fomentando os indivíduos a viverem e sentirem-se corporalmente. Daí a importância de um indivíduo que se forma profissionalmente para trabalhar com tal área do conhecimento, vivenciar e estudar a Corporeidade como propriedade do corpo e como possibilidade de desenvolvimento humano próprio e alheio.
A relação estabelecida entre a corporeidade e as expressões do sujeito implica em vivências no meio sociocultural que resultam no desenvolvimento dos domínios do comportamento referentes aos aspectos cognitivos e sócio-afetivos. A análise do fenômeno da corporeidade perpassa pela compreensão de outros conceitos de corpo e de consciência corporal

CONSCIÊNCIA CORPORAL

As vivências e as aprendizagens constroem a corporeidade do sujeito. Corporeidade é a história de vida, a experiência do corpo vivido expressa pela motricidade. Na medida em que se constrói história e cultura, o sujeito se apropria da realidade. A consciência corporal se traduz como o conjunto de manifestações corporais estabelecidas entre os homens e o meio. A consciência “é consciência de alguma coisa”, visa algo e, portanto é intencional. O processo de conscientização se dá no espaço relacional e se constitui na ação sobre o meio. A consciência corpórea, como constituinte do processo de conscientização, portanto de construção de identidade, contribui para o autoconhecimento e para a compreensão do sujeito construído na interação, estabelecendo, via movimento experimentado/vivido, correlações cognitivas. É no fluxo da ação-cognição que se dá à formação de "corpo inteiro".
Quando digo consciência corpórea, me refiro a “eu sou corpo”, portanto há um processo de conscientização, via percepção corpórea, cognitiva, afetiva. Imagem corporal, autoconhecimento e conhecimento de si, são construídos na experiência vivida, na relação com o outro, na ação no mundo. Esses três aspectos do desenvolvimento humano participam da construção da consciência corpórea, que ocorre na medida em que há interação do sujeito com o meio, pelo movimento. Partir desse pressuposto é afirmar que é necessário criar condições para a produção humana, quer seja social, política ou educativa. Tais condições podem ser potencializadas na expressão da corporeidade, da consciência corporal pela motricidade, manifestação das vivências do sujeito. Significados atribuídos às vivências afetivas, cognitivas, sociais, culturais. Vivências que se entrelaçam e se organizam na corporalmente. Portanto, o sujeito manifesta razão e emoção.

“Corporeidade sou eu. Corporeidade é você.”

Enfatizo a importância de Estudos do Corpo (Corporeidade), visando a necessidade de mudanças, transformações no pensar, sentir e viver esse corpo, através de diversas possibilidades construídas nas relações humanas. Todo indivíduo se percebe e se sente como corporeidade. É na corporeidade que o homem se faz presente. A dimensão da corporeidade vivida, significante e expressiva, caracteriza o homem e o distancia dos animais. Todas as realidades humanas são realizadas e visíveis na Corporeidade [...] o ser humano é corporeidade.
O homem aprende a cultura por meio do seu corpo e o que define o corpo é o seu significado, não só nas semelhanças, mas também pelas diferenças construídas por cada sociedade. (DAÓLIO, 1998).
Corporeidade é condição de existência, uma vez que através dela que nos revelamos e nos afirmamos em relação aos outros como sujeitos diferentes. A corporeidade se volta, desse modo, para seu destino de intersubjetividade: é o elo pelo qual podemos nos reconhecer e intercambiar com os outros. É contemplando-a, experimentando-a, tocando-a. (MANESCHY, 2001)
Finalizo com as palavras de Moreira que conceitua a corporeidade de seguinte maneira: Corporeidade é buscar transcendência, em todas as formas e possibilidades, quer individualmente, quer coletivamente. Ser mais, é sempre viver a corporeidade, é sempre ir ao encontro do outro, do mundo e de si mesmo. Corporeidade é existência na busca de compromissos com a cidadania, com a liberdade de pensar e de agir, consciente dos limites desse pensar e agir.